quarta-feira, 19 de novembro de 2008

MOVIE-GOER TAMBÉM É CULTURA (Inútil, é claro...)

11 FILMES LEGAIS DOS ANOS 70!

Abaixo, uma "humilde" lista de 11 filmes produzidos nos anos 70 e que, para mim, são dignos de menção. O que une todas as produções da relação abaixo é a história. Os enredos apresentados chamam a atenção pela originalidade para época e até mesmo hoje em dia e também por apresentarem um ritmo diferente, mais lento, mas que só melhoram as produções em questão. Eles pegam você pelo braço e só soltam quando o filme acaba. E você vai achar ruim quando soltar... Isso que é legal nesses filmes: que você lamenta quando chega o final.

Outro critério para lista é que ela não é uma "Top 11 Over All" e sim filmes que vi e achei legais. Ou seja, é uma lista pessoal pra caralho. Não é, de jeito nenhum, um rol dos filmes mais importantes e influentes. Nela não há filmes fundamentais como “O Poderoso Chefão”, só pra citar um exemplo. Então vocês vão perceber que produções excelentes, como o citado, não entraram, mas os listados abaixo foram os que eu mais me identifiquei, caso não me tenha falhado a memória. Bom, claro que falhou...

Optei também por um critério estóico mesmo, ou seja, o cronológico: filmes produzidos entre 1970 e 1979. Não incluí também nessa lista, por exemplo, "Take the Money and Run" ("Virgil, o Ladrão Trapalhão"), do Woody Allen, que é de 69 e que tem tudo a ver com o parâmetro estético dos anos 70 ao qual eu estou me referindo. Mas, ao mesmo tempo, entrou "Taxi Driver", de 76, que é um filme tão importante, que, de todos dessa lista, talvez, seja o que tenha menos a ver com o estilo cinematográfico dos anos 70.

Lista de preferidos é igual ao nariz: todo mundo tem o seu, alguns gostam, outros não, mas essa quase dúzia aí eu mantenho empinado e não mandaria fazer uma plástica nela nunca, moçada! Tentem alugar, comprar ou baixar esse filmes na internet. Em média, são roteiros BEM melhores do que se vê hoje em dia, não importa a quantidade de computação gráfica empregada!

Ah! Por quê 11 filmes e não 10? Bom, não sei... MOVIE-GOER não sabe tudo mesmo...


Pequeno Grande Homem (Little Big Man)

1970 - EUA – 135 min

Diretor: Arthur Penn

Esse é aquele tipo de filme onde a história é o que mais se destaca. Você fica ligado o tempo todo com o que acontece com o personagem, que tem sua trajetória cheia de altos e baixos.
Tava tardão, com sono pra caralho e esse filme começou a passar na Globo. Mesmo não querendo, não tive como não grudar a cara na tela que nem gato em farol de carro. “Pequeno Grande Homem” é umas das provas que um bom roteiro é, antes de tudo, a espinha dorsal de todo bom filme.

Mistura de comédia e drama histórico, onde a narrativa em flash back (a maquiagem, inovadora para a época, transformou o Dustin Hoffman em um velho de 121 anos!) conta a história de uma criança branca que é a única sobrevivente de um massacre de colonos norte-americanos por índios. Ela, Hoffman, é adotada por uma tribo Cheyenne e se torna então, "índio" por aculturamento, ganhando o nome de Pequeno Grande Homem. E assim, pontos sociais e históricos importantes da conquista do oeste americano são abordados de maneira sutilmente crítica.

Uma cacetada de filmes do começo dos anos 70 foram influenciados pela contracultura e pela guerra do Vietnam e espetavam o governo americano em relação às injustiças históricas cometidas, no caso aí contra os índios norte-americanos. Esse é um desses e faz isso de um modo inteligente e com uma narrativa bem original e intensa.


O Clube dos Cafajestes (National Lampoon's Animal House)

1978 - EUA - 109 min

Diretor: John Landis

Vi esse filme quando era criança e tenho que dizer que fiquei impressionadíssimo. Era tudo que eu sempre quis ver na vida endossado pelo mundo dos adultos, ou seja: a mais pura zona! O diretor John Landis, famoso por ser porra louca, dirigiu essa comédia original e que influenciou a maior galera. Se existem filmes como "Apertem o Cinto, o Piloto Sumiu!" e "Quem Vai Ficar com Mary?" é porque “O Clube dos Cafajestes” abriu o precedente. Tanto os irmãos Abraham como os Farelly com certeza viram e ficaram de cara com "O Clube".

Foi a primeira produção de um estúdio grande que tinha como alvo a galera de high school e principalmente, o público universitário. Rodado com pouca grana, fez um sucesso enorme nos EUA (por aqui, não...) provando que, primeiro em um filme, vem sempre uma boa história. Nele você vê atores como Tom Hulce, novinho, bem antes de "Amadeus", Kevin Bacon fazendo uma ponta e a estréia de John Belushi, com 20 e poucos anos, se destacando pelo seu carisma e totalmente em afinidade com a o caos que permeia a história. Tanto que, alguns anos depois, ele infelizmente morreria de overdose.

A história se passa em 1962, no campus da fictícia Universidade Faber. A fraternidade dos Delta é um lugar onde vários degenerados, zoneiros “pro”, liderados por Belushi, recebem os caras que não são aceitos pelas fraternidades tradicionais, que são redutos de pregos reacionários, etc. Aí rola o conflito entre essas duas "correntes ideológicas" e que conduz toda a trama.

O legal é a iconoclastia protagonizada pelos Delta durante o filme inteiro. É um "Foda-se tudo" do começo ao fim, mas, se você olhar bem, eles estão "indo contra o sistema" (argh!) pela maneira deles, ou seja, negam o estabilishment com cerveja, festas, notas vergonhosas e zona gratuita e de protesto em doses maciças.

A trilha sonora, que é do caralho (Já ouviu? Se não, ouça!) vendeu horrores. Rhythm and Blues de primeira linha. Tem "Money - That's All I Want" que a maioria conhece pela versão do Backbeat , cantada pelo próprio John Belushi, o sr. Joliet Jake Blues himself, que era um bom vocalista como você pode atestar nessa versão e em todos as faixas dos Blues Brothers. Tem também o clássico "Louie, Louie" e uma versão cult de "Shout" tocada por um tal DeWayne Jessie que aparece no filme com sua banda usando o pseudônimo trocadilhesco de “Otis Day and the Knights”. Um dos caras da banda é o Robert Cray! A trilha é daquelas raras porque não só se encaixa perfeitamente no filme, mas como valoriza tudo.

O filme não afrouxa nem um minuto. Destaque para a cena da guerra de comida (vocês não imaginam como essa seqüência ficou gravada no meu inconsciente, amigos...), a da festa da toga e a do cavalo. Não sei se foi o primeiro filme a fazer isso, mas tem um tipo de final, que virou um clássico, é copiado até hoje.

"O Clube dos Cafajestes" passou várias vezes na Globo, tarde da noite, todo cortado por causa das "pesadíssimas" cenas de sexo e maconha, (que hoje você encontra muito piores em Dawson's Creek!). Na época, tinha até uma camiseta da finada loja Company com os seguintes dizeres nas costas: "It Was the Deltas Against the Rules. The Rules Lost..." O nome dado em português ao filme vem de um grupo de playboys, socialites e bon-vivants cariocas que na década de 50 e 60 tocavam a zona na high society do Rio. Li a sátira do Mad na época e não entendi a metade, pois ainda não sabia nem limpar a bunda.

Como era de praxe na época, o filme dá uma criticada na Era Nixon e na direita americana. Então você tem um filme que todos os caras que estão por volta hoje dos 30, 40 anos viram e se antes as fraternidades norte-americanas eram sinônimos de berços de futuros líderes da nação desde a década de 70, viraram depósitos da chamada "Geração X". É claro que esse filme não influenciou ninguém nesse sentido, mas que ele estava no lugar certo, na hora certa, isso estava.


Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs)

1971 - Inglaterra - 118 min

Diretor: Sam Peckinpah

Filme impressionante pois você vai se envolvendo de modo consciente e subconsciente com o que vai sendo apresentado. Vários aspectos primários da natureza humana, mas principalmente, a violência natural, seja ela disparada por pressões sociais ou emocionais, são expostas nesse excelente thriller de tensão psicológica. Esse filme é foda porque aborda temas "digestivos" como instinto sexual, xenofobia, dominação, machismo, discriminação e territorialidade de uma maneira inteligente e sem conversa mole.

Não importa o background: todo mundo agiria igual em certas situações? Se você gosta de Psicologia, tem um prato feito nesse filme. Ele é brilhante porque não dá todas as respostas. Ele faz com que você se identifique com o que está acontecendo e pense realmente a respeito. Nisso, o diretor Sam Peckinpah era mestre. Ele ficou famoso por fazer filmes violentos, mas nesse caso absolutamente nada é gratuito. A edição e a fotografia são os pontos altos, depois, é lógico, do roteiro.

Dustin Hoffman faz um professor de matemática americano que vai morar com sua esposa na cidade natal dela, no interior da Inglaterra. Só que a galera da cidade é naturalmente bronca e ignorante e nem se amarra em saber que um "intelectual estrangeiro" pegou uma "fêmea da sua tribo". Então, não aceitam esse fato muito bem e começam a abrir o leque de cascagrossices em cima do rapazola, um nanico narigudo pacifista ianque. Rola uma pressão violenta gradativa em cima dele até o limite do insuportável e isso conduz a transformações surpreendentes.

Destaque para a cena em que o ex-namorado chega junto na mulher de Hoffman e a impressionante seqüência final que é realmente o ponto alto do filme. Tranqüilamente, uma das melhores da história do cinema! Uma aula de tensão narrativa e de como envolver o espectador.

Sabe o que é mais foda em "Sob o Domínio do Medo"? É que, de uma forma ou de outra, você acaba se identificando em algum momento com o protagonista. Sem perceber, com o desenrolar da trama, você começa a pensar/sentir que nem um macaco! Do início, meio sombrio e enigmático, até o final apoteótico, você fica completamente ligado na trama, quem vai ganhar a batalha entre superego e id. Uma obra-prima de tensão. Sem dúvida, um dos melhores thrillers que eu já vi. Eu e todo mundo...


(???) The Watermelon Man

1970 - EUA - 97 min

Diretor: Melvin Van Peebles

Dirigido e estrelado por um cara chamado Melvin Van Peebles que deve ser pai do Mario Van Peebles (que você já viu por aí em filmes A e B), o "Homem Melancia" (tradução literal, não sei o título em português) é um filme de baixíssimo orçamento, mas que é brilhante por usar uma idéia simples e original: é a história de um americano branco, classe média do subúrbio, w.a.s.p. até a medula, que, em um belo dia, inexplicavelmente, acorda mais preto que a virilha da Tia Anastácia.

Vi esse filme chegando de madrugada em casa e peguei ele na metade, na extinta Sessão de Gala (não é de filme de sacanagem, não!!!). Só que como eu não sabia absolutamente nada sobre o filme, fiquei incomodado com a aparência do ator principal. Ele tinha uma pele do rosto e um cabelo esquisitíssimos e ficava de calça comprida e camisa social abotoada até o pulso o tempo todo! No meio do filme, você descobre que, na verdade, ele é um ator negro, maquiado pra caralho para parecer um cara branco (lembre-se que o filme é de 1970, a maquiagem da época não era nem perto o que é hoje...).

Ao perceber isso, você imediatamente fica fã do filme. Além, disso a história é contada em tom de comédia e, isso, lógico, produz seqüências muito engraçadas. O protagonista Jeff acha que está com alguma doença de pele, e ao longo da história, acaba sendo abandonado pela mulher loira e os filhos, perde o emprego, os amigos brancos, é assediado pela polícia, etc., tudo isso por ter virado negro para os outros. Entretanto, em sua própria cabeça, ele ainda se acha branco. Destaque para a cena em que ele tenta entrar no ônibus que leva ele e seus amigos para o trabalho todo dia, só que, agora, parecendo um "afro-americano", como os gringos gostam de dizer...

A idéia é excelente para denunciar o racismo da forma mais direta e sensibilizante possível, ou seja, ao colocar alguém literalmente na pele do outro. A mensagem é, tipo, que se você é negro nos EUA, somente por meio da união de todos eles será possível chegar a algum lugar. Se não, tá fudido...


Taxi Driver (Idem)

1976 - EUA - 113 min

Diretor: Martin Scorsese

Clássico absoluto. Para mim, é o primeiro filme onde o estilo Scorsese começou a se desenvolver, se definindo muito originalmente em "Touro Indomável", "A Cor do Dinheiro" até chegar ao ápice em "Os Bons Companheiros" e depois, se mantendo em "Cabo do Medo" e "Cassino" (todos da década de 80, com exceção desses dois últimos e todos com Robert De Niro, com exceção de "A Cor do Dinheiro").

Em 76, Scorsese estava começando a se firmar como diretor. Era inovador, mas não tinha um terço da moral que tem hoje e para fazer um filme como esse tinha que ter muito culhão. Ele podia se fuder redondamente se a crítica ou o público detonassem o filme. Acreditou em si e se deu bem. “Taxi Driver” foi um sucesso de bilheteria. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes e perdeu o Oscar para “Rocky, o Lutador”. Incrível, hein?

Scorsese foi bastante influenciado pela estética dos filmes B, onde se pode ter muito mais liberdade criativa sem a regulagem dos grandes estúdios. Isso o ajudou muito na composição de um estilo cinematográfico único. O filme começa na mesma seqüência de cenas em que termina. É um loop narrativo. Hoje em dia é mole fazer isso, mas naquela época...

O filme conta a rotina de um ex-fuzileiro naval prestes a surtar e que ganha a vida como motorista de taxi em Nova York. Travis é o nome da fera. Um excelente psicopata que oscila entre matar um candidato à presidência e salvar uma puta adolescente de um cafetão. Ele é frustrado e oprimido por não conseguir manter uma vida social mínima, mas, principalmente, pela pressão da cidade grande. Essa mistura, como se sabe, nos menos emocionalmente estáveis pode dar numa merda gigantesca... Então, o que faz o sujeito? Resolve virar uma espécie de anjo vingador e, como bom porra louca que se preze, só estava cumprindo ordens divinas para lavar aquela cidade imunda da escória que anda à solta, etc., etc., etc.

E os atores? Jodie Foster adolescente fazendo o papel de uma piranha-mirim. Cybill Shepherd, a gata da antiga série de tv "A Gata e o Rato", novinha, no auge da forma, Harvey Keytel como cafetão e Robert de Niro que, daí em diante, pôde só ser ele mesmo em todos seus futuros papéis... Você já leu a pionesca expressão "presença magnética na tela?" Pois é, tenho que admitir...é o que rola com ele nesse filme. Foi em Taxi Driver que ele criou o bordão que virou sua marca registrada: "You talkin' to me?" Ainda tem o Peter Boyle que é um cara que você já viu inúmeras vezes, mas não associa o nome ao ator e o próprio Scorsese fazendo uma ponta a lá Hitchcock.

Destaque para a cena em que DeNiro convida a Cybil Sheperd para ir ao cinema. Ela vai feliz da vida, mas logo fica horrorizada ao perceber que é um filme de sacanagem hardcore e “Travis” nem entende o porquê do chilique que ela dá...

Fotografia com cores fortes estourando em vermelho e amarelo, cortes precisos e não usuais à narrativa da época, movimentos de câmera que viraram sua marca registrada, esse filme pode ser visto como um retrato de psicose e da violência latente que há em indivíduos sobre pressão. Mas eu acho que não é só isso. Vi uma entrevista onde o Scorsese dizia: "Eu estava querendo expressar uma certa raiva na época" Expressou muito mais do que isso, pode acreditar...


Operação França (The French Connection)

1971 - EUA - 104 min

Diretor: William Friedkin

Oscar de melhor filme de 71, “Operação França” é o pai de todo um estilo de filmes policiais heróicos que a gente vê até hoje por aí. Máquina Mortífera e centenas de outros, focados em "duplas de policiais" vieram daí. É como você fosse o fã nº 1 do Oasis e aí te mostram uma bandinha chamada Beatles... Um filme sério da porra, meio denso, com ritmo próprio e bastante realista.


Além de melhor filme, também ganhou melhor roteiro adaptado e melhor ator para Gene Hackman. Inovador,criou padrões para esse tipo de trama de policiais bem mais realistas, bons diálogos, final não tão feliz, etc. e grandiosas seqüências de ação. Na história Jimmy "Popeye" Doyle (Hackman) e seu parceiro Buddy Russo (Roy Scheider) descobrem uma rede internacional de tráfico de heroína e vão vendo que isso é a ponta de um iceberg e ficam obcecados em acabar com ela.

Gene Hackman faz um estilo de policial casca grossa, que quer pegar o criminoso de qualquer modo, mesmo que ponha em risco a segurança pública e o bom senso. Para isso, é claro, desce o cacete na marginália. Tem uma cena famosa em que ele entra num bar em um bairro negro, bota todo mundo na parede, organizando sozinho um mega baculejo na base da gritaria e do distintivo de policial. Quando acha um coitado que ele acha pode dar uma informação que ele está precisando... fudeu! O próprio Hackman teve dificuldade de fazer a cena devido à agressividade que precisava ser empregada.

“Operação França” é baseado em um fato verídico onde os policias na vida real aparecem fazendo pontas. Um deles (provavelmente o que o Gene Hackman interpretou) se chamava "Sonny Grosso". Engraçado, não?

O grande destaque do filme é a famosa seqüência da perseguição de carros que é copiada até hoje. Virou a referência para esse tipo de ação e volta e meia tentam superá-la. Mesmo que alguns filmes tenham produzido cenas bem mais complicadas como se pode ver em "Jade", "Ronin" e "A Identidade Bourne", a de “Operação França” é tida como a melhor de todas.


O Homem que Queria ser Rei (The Man Who Would Be King)

1975 - Inglaterra - 129 min

Diretor: John Huston

Mais um caso onde o enredo é tudo. O filme funciona horrores porque é baseado numa história de Rudyard Kipling, autor de Mogli, o Menino Lobo, que, digamos assim, tinha a manha de escrever. Narrado em flash-back, conta a epopéia de dois militares ingleses servindo na Índia e que armam altos esquemas para enriquecer. Eles vão parar numa cidade remota do Afeganistão onde Sean Connery se faz passar pela reencarnação de Alexandre, o Grande para poder se apossar dos tesouros que o lugar esconde. Já viu o nível em que os caras jogam, né?

“O Homem que Queria Ser Rei” começa com o próprio Rudyard Kipling em seu estúdio. De repente, aparece um mendigão, todo lascado, que... Bom, não dá pra contar mais... O filme fala sobre como o poder sobe a cabeça e como esse tipo de corrupção é capaz de destruir tudo giroscopicamente. Tá no título. Mas também dá pra sacar uma crítica ao imperialismo inglês, pois o roteiro foi escrito pelo próprio John Huston, um americano dos mais tradicionais.

O filme é dirigido por ele mesmo, Houston. Politicamente incorreto por natureza, não tem grande refinamentos de narrativa por ele mesmo pertencer à velha escola cinematográfica, onde contar uma boa história já bastava. Vi uma entrevista do Michael Caine onde ele disse que quando foi pedir uma orientação para o velho safado sobre como deveria atuar nesse filme, o escroto respondeu: "Você está ganhando muito bem para querer saber esse tipo de coisa..." E só se dirigia aos dois atores principais pelos nomes dos personagens ("Peachy" = Caine e "Daniel" = Connery). E nesse, a escolha desses dois foi perfeita: o próprio Michael Caine e Sean Connery, na época, lutando para provar que não era somente o James Bond.

A história te dá uma gravata e não solta de jeito nenhum. De certo modo, esse filme pode ser visto como uma fábula de conceito universal, quer dizer “O Homem que Queria Ser Rei” é, nada mais, nada menos, que um filme pra vida toda.


Duas Ovelhas Negras (Freebie and the Bean)

1974 - EUA - 112 min

Diretor: Richard Rush

O melhor filme que eu já vi no sentido da difícil mistura entre humor e violência e vice-versa. Sem dúvida, uma obra-prima dentro desse estilo. Daria um braço para ter escrito esse roteiro e me consideraria um gênio da raça só por isso.

“Freebie” (James Caan) e “The Bean” (Alan Arkin) são uma dupla de policiais das mais ignorantes. Trabalham em San Francisco e fazem tudo para prender um gangster ou, melhor ainda, trucidar ele! Esse filme é da época onde não existia porra nenhuma de politicamente correto e outras palhaçadas do gênero. Então, é um retrato de um tempo recente onde nem a regulona indústria de cinema norte-americana pensava: “Oh puxa, como é que nós fazemos um filme desse tipo...?”, como seria normal hoje em dia.

Ignorância e humor em doses cavalares. É assombroso o equilíbrio entre agressividade e comicidade, uma se servindo da outra, em um círculo perfeito. As discussões entre os dois protagonistas são engraçadas pra caralho. Um é agressivo para ser engraçado. O outro é engraçado pela agressividade. E muito desse equilíbrio se deve a escolha dos protagonistas: tanto o James Caan como o Alan Arkin mostraram entender muito bem seus papéis e deram muito mais que o roteiro pediu, pois estão com o pé em baixo em todas as cenas. Você fica impressionado com o stress, o nervosismo e a irritação constante dos dois, o que confere uma realidade cômica que não poderia ter sido escrita tão detalhadamente. E esse Alan Arkin é foda, daqueles caras que tem um jeito sério, mas naturalmente engraçado, sem ser “metido a”.

Esse filme tem umas 5 ou 6 seqüências sensacionais. As cenas de perseguição são o ponto alto do filme. Não dá pra destacar uma em particular. Mas vou falar de uma mais simples (porém não menos genial): após prenderam um texano bêbado de dois metros de altura, um deles resolve aceitar o desafio do bebum para sair na porrada. Você não imagina o que acontece...

Vi esse filme pela metade, na Record, por volta de 93... Fiquei em estado de choque... Foi como se tivesse achado uma pintura inédita de Da Vinci num porão imundo (no caso, a Record,) ou um conto inédito de Shakespeare forrando uma gaveta velha! Exagero? Depois de ver “Duas Ovelhas Negras”, você vai que não...

"Apreceie" esse filme único em seu gênero. Encontre esse filme algum dia. Ele é uma obra-prima. Só que pouquíssimos vão achar isso.


Ensina-me a Viver (Harold and Maude)

1971 - EUA - 90 min

Diretor: Hal Ashby

Esse é um bom exemplo do ritmo dos filmes dos anos 70. Eles são mais lentos do que a gente vê hoje em dia, mas você fica tão ou mais interessado por isso mesmo e, principalmente, pelas histórias originais, como é o caso dessa produção.

“Ensina -me a Viver” conta a história de um adolescente ricão, de uma família altamente impessoal e que tem como grande hobby... hã... a morte! Entretanto, ele conhece e acaba se apaixonando por uma senhora de 79 anos, que, apesar de se parecer com uma ameixa, vive bem pra caralho, no módulo "Foda-se os outros".

Um filme bem típico da década de 70 - ideologia pós-hippie de desobediência às normas sociais tradicionais, trilha do Cat Stevens, etc. E o mais irônico que o filme foi virou um sucesso cult justamente por isso. Quando foi lançado, os críticos meteram o pau, o filme foi meio que ignorado pela distribuidora, mas o público universitário se amarrou na mensagem de não às normas da sociedade, família e Estado e transformou “Ensina-me a Viver” num símbolo de uma época. Ficou passando em um cinema em Minneapolis por 3 anos, tipo uma peça de teatro da Broadway!

Destaque para as cenas onde o protagonista Harold simula vários tipos diferentes de suicídio para chamar a atenção da mãe. Aparentemente humor negro, “Ensina-me a Viver” é um filme de grande conteúdo emocional, romântico e social.


Patton (Idem)

1970 - EUA - 171 min.

Diretor: Franklin J. Schaffner

Ótimo exemplo de como, por meio de um filme, você pode conhecer uma época... No caso, o fim da década de 60. Outro timming, outra estética, entretanto capaz de fazer você se envolver realmente com a história como se fosse uma fábula. A "fábula" (não conheço termo mais errado do que esse...), no caso, é a do general norte-americano George S. Patton. Que beleza, hein?

Interpretado por George C. Scott, cuja performance é considerada até hoje uma das melhores já feitas para o cinema. Eu não gosto muitos dessas classificações grandiloqüentes e entendo picas de interpretação, mas nesse caso, tenho que concordar: o cara destrói. Esse filme ganhou 7 Oscars, incluindo melhor filme e melhor ator, que o próprio C. Scott recusou. Falam disso até hoje... ah, o roteiro foi co-escrito por F. F. Copolla.

Dizem que o Patton era foda mesmo. Ele deu a volta em Rommel, famoso general alemão, usando as mesmas táticas do sujeito. Ele era obcecado pelo o que fazia, no caso ser um militar à moda antiga. Em uma cena, o filme dá a entender que ele seria algum general romano reencarnado, pois ele diz se sentir mais à vontade num campo de destroços do que em casa regando o jardim.

Clássica a cena que o Patton, puto da vida com um soldado que estava tendo uma crise de nervos, dá uma bolacha na cara do fineza ... E acaba se fudendo todo por isso na vida real. Perdeu seu posto e acabou fora do Dia D!

O discurso de C. Scott com a bandeira gigante dos EUA no fundo é quase ipsis literis de um discurso original do próprio Patton. Mais do que os próprios americanos contando a história de seus heróis, esse filme era do tempo em que generais senhores da guerra como Patton podiam ser vistos também como anti-heróis, como faz esse filme num tom irônico até. Bem ao contrário do que, infelizmente, vemos hoje em dia.


Meu Nome é Ninguém (Il Mio Nome è Nessuno / My Name Is Nobody)

1974 - França / Itália / Alemanha - 130 min.

Diretor: Tonino Valerii

"Style"? "Istáili"? "Istáilon"? Qualquer das maneiras que você fale, é isso é o que você vai achar de sobra nesse filme. O grande mérito dessa produção européia (e não norte-americana, como parece) é o equilíbrio entre drama, ação e comédia. Isso tudo com muito, muito estilo.

Terence Hill, que é italiano, e que no Brasil ficou conhecido como Trinity, é um pistoleiro que tem como ídolo o velho Henry Fonda, que está de final, cansado daquela merda de ficar dando tiro na cara de vagabundo, trocando soco em saloons e batendo a bunda em cima de uma cela de cavalo pra cima e pra baixo. Só que Trinity tem Fonda como herói dos heróis e fica seguindo o velho como uma espécie de trovador, pilhando ele para um último ato de heroísmo - enfrentar sozinho um bando de 100 renegados - que o porá, definitivamente, no hall dos maiores mocinhos do velho oeste.

Henry Fonda é um ator clássico e dá o tom perfeito para um pistoleiro cansado da vida e com aquela expressão gelada de "Chega, já estou cheio disso". Você viu “Os Imperdoáveis" onde o Clint Eastwood dirigia e atuava? Então... tem tudo a ver esse dois papéis...

Seguindo a tradição dos filmes desse gênero, “Meu Nome é Ninguém” tem uma música-tema que fica na cabeça, closes e supercloses dos olhos de bandidos e mocinhos e, principalmente, a transformação estética do oeste norte-americano em lugar mítico. Tanto é assim, que a ilusão criada pelo cinema permite que a maioria desses filmes tenham sido rodados em regiões inóspitas da Espanha e Itália. Tá, o nome desse estilo de filme seria "Spaghetti-Western", mas, nesse caso, esse rótulo não segura o que o essa produção única é: uma quase epopéia emotiva, porém bem equilibrada até o "cocô do cavalo do bandido" como gostam de falar.

Esse filme mexe com o maniqueísmo de todo nós. O quanto de mocinho tem em você, o quanto você quer que o Henry Fonda ganhe sozinho de um monte de marginais mais novos do que e em maior quantidade, o homem é bom? Etc, etc., etc.

Um comentário:

Cassio Loretti disse...

Adorei a lista dos melhores filmes dos anos 70. Principalmente porque começa com um filme que eu adoro, O Pequeno Grande Homem.
Simplesmente a melhor narrativa do ponto de vista indígena sobre o processo de tomada do Oeste.
Um show de cinema, de atuação de Dustin Hoffman, de fotografia...
E um ícone do estilo de narrativa filmes sobre índios fora do estilo caudóis vs. índios.
Muito jóinha esse blog, garotão...
Prof. Casseta.